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sexta-feira, 31 de agosto de 2012

O menino azul


O menino quer um burrinho
para passear.
Um burrinho manso,
que não corra nem pule,
mas que saiba conversar.

O menino quer um burrinho
que saiba dizer
o nome dos rios,
das montanhas, das flores,
— de tudo o que aparecer.

O menino quer um burrinho
que saiba inventar histórias bonitas
com pessoas e bichos
e com barquinhos no mar.

E os dois sairão pelo mundo
que é como um jardim
apenas mais largo
e talvez mais comprido
e que não tenha fim.

(Quem souber de um burrinho desses,
pode escrever
para a Ruas das Casas,
Número das Portas,
ao Menino Azul que não sabe ler.)
Cecília Meireles

domingo, 4 de março de 2012

O ritmo na poesia de Cecília Meireles


Sonhos da menina
(Cecília Meireles)


A flor com que a menina sonha
está no sonho?
ou na fronha?

Sonho

risonho:

O vento sozinho

no seu carrinho.



De que tamanho
seria o rebanho?

A vizinha

apanha
a sombrinha
de teia de aranha . . .

Na lua há um ninho

de passarinho.


A lua com que a menina sonha
é o linho do sonho
ou a lua da fronha?

A avó do menino
(Cecília Meireles)
A avó
Vive só.
Na casa da avó
O galo Liró
Faz “cocorocó”!
A avó bate pão de ló
E anda um vento-t-o-tó
Na cortina de filó.
A avó
vive só.
Mas se o neto meninó
Mas se o neto Ricardó
Mas se o neto travessó
Vai à casa da avó,
Os dois jogam dominó.
Colar de Carolina
(Cecília Meireles)
Com seu colar de coral,
Carolina
corre por entre as colunas
da colina.

O colar de Carolina
colore o colo de cal,
torna corada a menina.
E o sol, vendo aquela cor
do colar de Carolina,
põe coroas de coral
nas colunas da colina.
A pombinha da mata
(Cecília Meireles)
Três meninos na mata ouviram
uma pombinha gemer.
"Eu acho que ela está com fome",
disse o primeiro,
"e não tem nada para comer."
Três meninos na mata ouviram
uma pombinha carpir.
"Eu acho que ela ficou presa",
disse o segundo,
"e não sabe como fugir."
Três meninos na mata ouviram
uma pombinha gemer.
"Eu acho que ela está com saudade",
disse o terceiro,
"e com certeza vai morrer."




quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Ou isto ou aquilo de Cecília Meireles

Um dos mais belos clássicos da poesia brasileira, “Ou isto ou aquilo” aborda os sonhos e as fantasias do mundo infantil - a casa da avó, os jogos e os brinquedos, os animais e as flores, tudo ganha vida nos poemas de Cecília Meireles.

Ou isto ou aquilo
Cecília Meireles

Ou se tem chuva e não se tem sol,
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo nos dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo...
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda
qual é melhor: se é isto ou aquilo.




Cecília Meireles
Nasceu no Rio de Janeiro em 1901 e morreu na mesma cidade em 1964. Educadora, sempre preocupada com os problemas da infância, exerceu o magistério desde que se formou pela Escola Normal do Rio de Janeiro em 1917. Seu entusiasmo pela educação a fez criar a primeira biblioteca infantil. Cecília sempre procurou difundir a literatura e cultura brasileiras. Sua poesia, feita de impressões, musicalidade e cores, está presente neste "Ou isto ou aquilo", que fala dos sonhos e fantasias do mundo infantil.